Uma edição da revista italiana Famiglia Cristiana, no ano passado, provocou uma grande discussão naquele país: a foto da capa da revista (em destaque) mostrava dois jovens recém-casados, sendo que a noiva, de vestido branco e grávida, era abençoada pelo sorridente papa Francisco. A manchete destaca: “A alegria do amor: a Igreja abraça todas as famílias. Nenhuma está excluída”.
Muitos leitores da revista manifestaram sua indignação com a publicação e com a atitude de Francisco e iniciou-se um grande debate sobre a foto, principalmente nas redes sociais.
Para alguns leitores, a escolha da capa pela revista foi uma verdadeira afronta à doutrina da Igreja. E argumentavam, também, que o Papa, com aquela carinhosa atitude, iria encorajar o sexo antes do casamento.
“Esta imagem pode ser interpretada como uma condescendência do Papa ao sexo antes do casamento e assim esvaziar a santidade do casamento em si e encorajar o amor livre” – escreveu um dos leitores da revista.
Outro leitor registrou que a mensagem que chegava aos adolescentes e aos jovens era péssima: “Eu quero dar aos meus filhos o valor da virgindade até o casamento e sinto muito [que a revista] ‘Família Cristã’, única [publicação] semanal que vem em minha casa fez essa escolha”.
Em resposta aos leitores, o diretor da revista, padre Antonio Sciortino, tentou colocar um ponto final na polêmica. Ele escreveu: “A foto foi tirada na Praça de São Pedro, na audiência geral de quarta-feira, 10 de junho de 2015. Naquela ocasião, houve um grande grupo de recém-casados e o Papa dirigiu-lhes uma saudação especial“.
De acordo com o diretor da revista, o ensino do papa Francisco sobre a família e o casamento é muito claro e perfeitamente de acordo com todo o Magistério da Igreja. “Não há nenhuma adaptação aos tempos – reiterou padre Sciortino – mas apenas em acolher com misericórdia e acompanhar as famílias feridas“.
Ainda segundo Sciortino, acima de tudo, há o convite para testemunhar a beleza do matrimônio, onde até mesmo o sexo é um presente de Deus.
Grupos católicos conservadores atacaram a atitude do Papa
Um dos sites tradicionalistas que desencadeiam uma espécie de “ciberguerra”, ou seja, uma guerra nas redes sociais e na Internet, contra as ações do papa Francisco, intitulado UnaVox, aproveitou a ocasião para atacar o Papa Francisco. Com a manchete “Bergoglio abençoa coabitação antes do casamento”, o site informa que o papa Francisco está abençoando o ventre das mulheres grávidas.
Utilizando a mesma linguagem visual do portal na Internet da Santa Sé, a confundir qualquer leitor mais distraído, o grupo conservador coloca em dúvida até mesmo a atitude do Papa em tocar o ventre materno:
“Pode-se argumentar que ninguém deve tocar o ventre de uma mulher grávida; somente seu marido e seu médico. Certamente nenhum prelado deve fazer, muito menos um papa. Para cada homem tal ato vai contra a decência e moralidade”, diz o site.
Ainda segundo esse grupo,
“quando o Papa abençoa o ventre de uma mulher grávida que vai se casar, ele também está louvando seus pecados anteriores contra a castidade, que produziram a gravidez. Isso é aprovar e encorajar a coabitação pré-marital. Nesse sentido, a ação do Papa se opõe frontalmente à moral católica e em particular ao sexto mandamento. Em suma, o papa Francisco está promovendo o pecado e, portanto, está dando um escândalo público. Isso é inconcebível para um papa, cuja missão é confirmar os fiéis na fé e na moral católica.”
O que você pensa sobre isso?
Desde a publicação da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, com a qual o Francisco pediu que a Igreja: à luz da Palavra, veja a realidade e os desafios das famílias; tenha um olhar fixo em Jesus; anuncie a vocação da família, bem como a centralidade do amor; repense e renove suas perspectivas pastorais de acolhida e acompanhamento das famílias; reforce a educação dos filhos; acompanhe, faça discernimento e integre a fragilidade pela lógica da misericórdia; promova uma espiritualidade conjugal e familiar. O Papa pede que o discernimento da Igreja seja dinâmico, não prescinda da verdade e da caridade do Evangelho e que se busque, com sinceridade, a vontade de Deus no desejo de chegar à melhor resposta possível.
Mas, por pedir que a Igreja aja com discernimento, estudando cada caso e não apenas aplicando leis na hora de ministrar os sacramentos, inclusive a pessoas divorciadas, há série de ataques de grupos moralistas contra o Papa. Até mesmo um grupo de quatro cardeais exigiram, publicamente, “explicações e correções” no texto da exortação.
O magistério tradicional afirma que um católico que volta a se casar no civil pode comungar somente se a Igreja tiver também anulado a primeira união matrimonial. Alguns bispos viram em Amoris Laetitia uma orientação para acolher, com compaixão, os casais à Eucaristia, sem essa anulação.
Essa ideia tem ofendido os conservadores que têm tomado atitudes hostis à essa e outras mudanças propostas por Francisco, como as reformas na estrutura da Cúria Romana.
E você? O que pensa sobre isso?
Acha que a atitude de acolhimento, misericórdia e carinho do papa Francisco com grupos historicamente afastados da Igreja está correta?
Dê sua opinião!
Robson Sávio – da equipe executiva do Observatório da Evangelização – PUC Minas