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Evangelli Gaudium e o Laicato: desafios e perspectivas

Dentre várias conferências apresentadas nessa terça-feira, 22 de maio, no segundo dia do Simpósio “A Virada Profética de Francisco” é importante destacar o que foi dito pelo prof. Dr. César Kuzma da PUC Rio, cujo tema foi: Evangelli Gaudium e o Laicato: desafios e perspectivas para uma desclericalização da igreja.

Segundo Kuzma, a vocação laical tem como específico a missão no mundo. Este espaço, como muitos documentos da Igreja sempre destacaram, preferencialmente deve ser ocupado pelos leigos. Quando existe disputa de lugares, de espaços, têm-se  inúmeras dificuldades. O cristão leigo deve esquivar-se das questões internas estruturais e ser aquilo que deve ser o que lhe é próprio, isto é, presença. Presença nos muitos ambientes em que se encontra no dia a dia.

A Evangelli Gaudium, em se tratando dos leigos, apresenta um marco, traz um ponto de mudança, indica um novo tempo. Esta exortação apresenta uma novidade em relação à missão da Igreja, que, por sua vez, nasce a partir de um encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Este encontro envolve toda a vida de uma pessoa e, assim, ao marcá-la, ocasiona uma nova missão e origina, consequentemente, um novo agir. O que era transcendência passa a ter aspecto de imanência e vice-versa. A alegria que nasce do encontro com Cristo, passa a ser, na mesma alegria, o compromisso com o anúncio.

Ao considerarmos o laicato enquanto membros do corpo de Cristo, que é a Igreja, colocam-se algumas questões importantes, a saber: como imaginar a Igreja na totalidade da sua missão sem considerar os leigos majoritários em quantidade, mas minoritários no campo das deliberações, ações e frentes de evangelização? Como ser uma Igreja em saída: por que saímos, para onde e por quem?

Ao destacarmos a eclesiologia do Papa Francisco, reconhecemos que se trata de uma agenda inacabada; uma Igreja pobre e para os pobres. A dignidade do leigo não está em ser leigo, mas no fato de fazer parte do Povo de Deus, e, por isso mesmo, estar no mundo. Esta consciência ainda não se deu, de fato, na vida de muitas pessoas dentro e fora da Igreja.

Ao tratarmos da relevância e atualidade do laicato, deseja-se que, através do Ano Nacional do Laicato, os leigos desenvolvam uma Teologia crítica quanto à sua missão e lugar, nem tanto dentro da Igreja, mas, essencialmente no mundo onde se encontram. Esta consciência precisa ainda ser despertada e amadurecida. A Boa Nova de Jesus foi anunciada no meio do povo. Ele mesmo não pertencia a nenhuma estrutura religiosa. Neste sentido podemos falar de uma laicidade do Evangelho, isto é, ele é aberto. Os leigos devem assumir seu tempo na Igreja. O futuro da Igreja passa pela consciência dos mesmos. Onde estão e devem estar nossos leigos (pergunta prática)? Quem são estes que chamamos leigos (pergunta Teológica), e, para onde caminhamos como leigos? Os leigos não podem se sentir apenas como alguém que participa da Igreja, mas eles são a Igreja, são membros da mesma. Eles são sujeitos na vida da Igreja e da Sociedade. Precisam assim se sentir, e, por outro lado, serem reconhecidos e valorizados, mesmo em meio aos muitos desafios eclesiológicos que atrasam e dificultam, quando, na verdade até acabam impedindo essa experiência.

Neste horizonte, ajuda, e muito, olhar para Jesus e o seu ministério. Ele foi um homem leigo e sujeito em seu tempo. Ele não era membro de nenhuma hierarquia, era pobre com os pobres e como os pobres. A melhor forma de ser leigo, é olhar para Jesus, o que sempre proporciona abrir perspectivas. Olhar para Ele e seu ministério na busca de entender o desafio de sua laicidade. Olhar para os pés de Jesus na busca de seguir seus passos, se faz necessário, para podermos um dia contemplar seu rosto.

A desclericalização da Igreja se dará, quando os leigos buscarem um novo ethos alimentado pelas perguntas que dizem respeito ao onde ir, o que fazer, que caminho tomar. Neste aspecto, só será possível fazer esse caminho, quando tiver a coragem de “libertar-se das estruturas” de fechamento, que amarram e obscurecem , contribuindo para a conservação das coisas. Esta postura exige autonomia, autenticidade e coerência. É preciso avançar para o fim de uma Igreja clerical tanto da parte do clero, quanto do próprio leigo e buscar assumir o projeto de uma Igreja Reino, algo novo, vivo.

“Superar a estrutura e não brigar com ela. Ter um jeito novo de fazer”, diz Kuzma, é o caminho que se espera em relação aos leigos, mesmo que a experiência e o peso cultural herdado, e ainda vivido por muitos e em muitos lugares, sejam demasiadamente fortes. Cabe a cada um de nós abrir caminhos, estabelecer processos, pistas, fazendo ressoar a possibilidade de uma nova perspectiva.

Joel Maria dos Santos

Membro da Equipe Executiva

Observatório da Evangelização