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Juventude, Experiência de Fé e as Tecnologias Digitais: desafios e perspectivas

Em meio às muitas conferências oferecidas na tarde do dia 23 de Maio, em que acontece o XVIII Simpósio: A virada profética de Francisco: possibilidades e limites para o futuro da Igreja no mundo contemporâneo, realizou-se a mesa redonda com as presenças dos respectivos professores: Dr. Mauricio Perondi – PUCRS, Dr. Moisés Sbardelotto e da MS Patrícia Machado Vieira – PUCRS, contemplando o seguinte tema: Juventude, experiência de fé e as tecnologias digitais: desafios e perspectivas.

O primeiro a falar foi o Dr. Mauricio Perondi. Para ele a abordagem desse tema no espaço da virada profética de Francisco, é de grande importância. A expressão juventudes, é um conceito básico da Sociologia e das demais ciências humanas e para aprofundar a compreensão da mesma, é preciso uma atitude fundamental: buscar conhecer o fenômeno. Assim é preciso, se se quer conhecer melhor o fenômeno das juventudes, aproximar-se do mesmo para conhecê-lo adequadamente. Daí as perguntas fundamentais: quem são os jovens de hoje? Qual é e como se manifesta o fenômeno juvenil hoje? Tudo isso nos desafia a pensar e abordar as juventudes no plural. Não podemos falar de uma única categoria de juventude, isto é, de uma forma homogênea. Ao falarmos do jovem hoje, é preciso pensá-lo como sujeito e não simplesmente um projeto para o futuro. Neste horizonte é que alguns passos já foram dados quando se considera os jovens como: sujeitos possuidores de uma enorme diversidade.

No âmbito da experiência de fé e religiosidade  percebe-se um progresso considerando o contexto paradigmático em relação às juventudes. Tanto em Puebla quanto Santo Domingo, falava-se de uma opção afetiva e efetiva pelos jovens. Já em 2018, a opção agora se dá não mais pelo, mas com os jovens enquanto sujeitos na experiência da fé e na participação da sociedade. Ao constatarmos que a Igreja não tem sido mais o espaço de socialização para as juventudes, que o sentido e significado não passam mais pela tradição, que a experimentação passa pela vivência, que a existência de múltiplos pertencimentos ocorre através do transito religioso, não podemos continuar dizendo que os jovens não tem interesse religioso. Existem na verdade outras formas de experienciar a dimensão religiosa. Acrescenta-se a tudo isto um mundo marcado pela tecnologia digital em que assistimos a uma verdadeira revolução digital.

Segundo a MS Patrícia Machado Vieira – PUCRS existem nesta questão muitos desafios e perspectivas. É preciso aproximar-se das juventudes, das culturas juvenis e mudar a mentalidade. Ao invés de fazer para os jovens, é preciso pensar com os jovens, fazer com os jovens. Este exercício requer a capacidade de diálogo e escuta. Ao realizar esse exercício, inicia-se um caminho de compreensão acerca do como os jovens interagem com a questão do tempo, da interatividade, das relações, enfim, de tudo aquilo que faz parte da importância da sua história. Como perspectivas, faz-se necessário o resgate da simbologia enquanto aquela que dá sentido à vida do jovem, a criação de espaços de participação e autonomia de forma construída possibilitando a aprendizagem, o respeito, reconhecimento e a valorização das diversidades enquanto construtoras da multiplicidade de sujeitos e a superação da dicotomia entre o real e o virtual. Na verdade não existe, para as juventudes, a separação desses dois mundos.

Para o Dr. Moisés Sbardelotto, as tecnologias sociais são responsáveis pelas transformações que os seres humanos vivem. Nesse horizonte, ele destaca quatro aspectos importantes, a saber: a construção de nossas identidades graças às redes sociais que nos possibilitam ser reconhecidos, as relações interpessoais marcadas pela comunicação que por sua vez vão sendo modificadas, a organização social que acontece também pelo mundo digital e, por fim, a religação com o transcendente em que se busca algo que vai além daquilo que nos faz sofrer. Na perspectiva do que o Papa Francisco disse, que é preciso ser uma Igreja em saída, ele destaca que é preciso percorrer todas as estradas que existem, incluindo as do mundo digital, que, por sua vez, estão congestionadas de humanidade. Sbardelotto destacou, considerando o mundo digital, a relação existente entre as lógicas digitais e as experiências religiosas hoje, através de cinco novas constatações: as novas espacialidades e a lógica da condensação máxima; as novas temporalidades e a lógica da velocidade absoluta; as novas materialidades e a lógica da complexificação; as novas ritualidades e a lógica da seleção e, por fim, as novas discursividades e a lógica da extimidade em contraposição à intimidade.

Portanto, considerando o contexto da lógica e desafios do mundo digital, o caminho é estar presente nele, é o da aculturação digital. Ao invés de denegrir esse mundo, podemos nos servir do mesmo para compreendermos o que está por trás das várias expressões juvenis. Escutar é preciso para melhor ajudar servindo-nos dos sinais dos tempos que estão sendo oferecidos.

Joel Maria dos Santos

Membro da Equipe Executiva

Observatório da Evangelização