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Paróquia São Francisco Xavier: Uma rede de comunidades em processo de autoconstrução

“[...]uma rede de comunidades iguais em dignidade, com atuação organizada e definida em torno de quatro áreas pastorais: catequese, liturgia, evangelização e ação social.”

 

Breves dados geográficos e históricos da caminhada

Situada na zona norte da capital mineira, na região episcopal Nossa Senhora da Conceição. Para quem segue pela linha verde, na Av. Cristiano Machado, no sentido do centro para o Aeroporto de Confins, ela fica à direita, logo após a Avenida Saramenha. Os limites de seu território se estendem pelos bairros Floramar, Jardim Felicidade, Jardim Guanabara, Lajedo, Pedreira, Solimões e Tupi. Segundo dados do Centro de Geoprocessamento de Informações e Pesquisas Pastorais e Religiosas – CEGIPAR, ela concentra uma população de cerca de 70.000 pessoas. Desde a sua constituição,  foi entregue aos jesuítas, que já atuavam pastoralmente na região. Nas proximidades da paróquia, funciona a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE.

A paróquia foi criada há 21 anos, consta na ata de fundação o dia 28 de outubro de 1993. Antes da sua criação, as comunidades ali situadas, já estavam entregues à Companhia de Jesus, mas elas pertenciam à antiga paróquia Cristo Operário, cuja matriz fica no bairro Planalto, perto da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. A comunidade mais antiga paróquia, a Nossa Senhora de Aparecida, completou 47 anos em 2014. Com o crescimento populacional na região, o cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo resolveu desmembrar as comunidades da paróquia Cristo Operário, situadas além da av. Cristiano Machado, formando uma nova paróquia. Nas palavras do pároco, pe. Marco Antônio:

 

“O pe. Francisco Gomes da Silva, SJ, conhecido popularmente por pe. Chico, foi designado pela Companhia de Jesus e assumiu, como primeiro pároco, a nova paróquia. Dom Serafim, por reconhecer a tradição missionária dos jesuítas, entregou a ele a que tinha maiores desafios sociais, com população mais carente. Então as lideranças das comunidades foram reunidas para a escolha do nome. Foi sugerido que fosse um nome de santo jesuíta. Escolheram São Francisco Xavier, o patrono das missões. No dia 03 de dezembro de 1993, dia de São Francisco Xavier,  foi a missa de inauguração da paróquia e posse do pároco.”

 

Os jesuítas assumiram a missão de elaborar um arrojado projeto de evangelização próprio para aquele contexto, e consolidar uma paróquia que respondesse aos desafios encontrados nessa região com alta densidade populacional e com graves déficits de políticas públicas básicas.

Por abrigarem no seio do corpo docente da faculdade renomados teólogos e pastoralistas de vanguarda, tinham presente os sinais de esgotamento do modelo tradicional paroquial e as reflexões pastorais de ponta. Contaram, também, desde o início, com a presença de outras congregações religiosas que atuavam no território da paróquia, com muitas lideranças leigas despertadas, identificadas e inseridas num processo de formação continuada.

Há um ditado que afirma: o novo nasce com dores de parto. Práticas eclesiais e mentalidades religiosas tradicionais não mudam por decreto, mas através de longo processo de caminhada, no qual se percorre etapas necessárias: conquista da confiança fraterna; testemunho coerente de vida cristã; desconstrução crítica acompanhada de sólida fundamentação bíblica; encantamento e entusiasmo brotados do encontro pessoal e comunitário com a pessoa de Jesus. A implantação de outro modelo de organização paroquial suscitou, no início, diversas resistências. Aos poucos, vencidas as primeiras resistências, as pessoas envolvidas nas ações evangelizadoras aderiram ao novo projeto de evangelização. Suscitou-se significativo grupo de lideranças leigas, dispostas a conhecer melhor a Tradição da Igreja e a colocar-se a serviço de um projeto de evangelização adequado ao contexto ali vivido.

 

É possível outra forma de organização paroquial?

Os gestores da recém-criada paróquia São Francisco Xavier, inspirados no horizonte do Concílio Vaticano II, investiram em outro processo de organização eclesial. Assumiram como ponto de partida a busca de suscitar processos dialéticos coletivos de construção da identidade cristã no seio de cada comunidade de fé. Foi necessário, assim, que os membros das comunidades fossem estimulados a desenvolver relacionamento eclesial fraterno e a reconhecer a sua comunidade como Igreja. Para isso, investiu-se em diversas estratégias pastorais: Fazer celebrações litúrgicas catequéticas, que explicitassem, de forma mistagógica, a presença amorosa de Deus na vida das pessoas; formar grupos diversos e conselhos comunitários e paroquias que oportunizassem a participação corresponsável, o encontro e a construção de vínculos entre os leigos e as leigas; valorizar e explicitar a alegria do Evangelho na vida e na cultura local do povo e,  quando não percebida, investir no anúncio; preocupar-se para que as pessoas e suas famílias se experimentassem acolhidas em seus anseios e reconhecidas na comunidade local; cuidar para que ali se tornasse um lugar privilegiado para celebrar e alimentar a fé em Jesus Cristo, celebrar os sacramentos e, do mesmo modo, realizar os festejos, partilhar as dores, somar forças e irmanar-se para travar as necessárias lutas sociais, como também receber todo apoio e orientações afetiva-sexual, sociopolítica e espiritual.

A partir de uma pedagogia mistagógica da presença e do afeto eclesial, lideranças leigas, seminaristas, religiosos/as, presbíteros e bispos foram envolvidos numa caminhada de crescimento e aprofundamento da vida cristã em contexto urbano com vários desafios de consolidação da cidadania. Concebeu-se a organização em rede de comunidades iguais em dignidade, com atuação organizada e definida em torno de quatro áreas pastorais específicas e inter-relacionadas: catequese, liturgia, evangelização e ação social.

 

I

CATEQUESE

II

LITURGIA

 

QUATRO ÁREAS

DE ATUAÇÃO PASTORAL

NA PARÓQUIA

 

III

EVANGELIZAÇÃO

IV

AÇÃO SOCIAL

 

Por encontrar-se para celebrar o mistério pascal de Jesus Cristo ao longo do ano litúrgico (Liturgia); por educar-se constantemente nesse mistério (catequese); e por viver de tal modo segundo esse mistério, que se possa, por palavras e gestos, anunciá-lo aos outros (evangelização), em vista da transformação do mundo (ação social).

 

Organizar a ação evangelizadora a partir de quatro áreas pastorais específicas e inter-relacionadas

a)      Catequese

Em relação à área pastoral “catequese”, merece destaque a forma como foi dinamizada pelo pároco, desde o início, baseada no método da catequese narrativa do pe. Juan Antônio Ruiz de Gopegui. Criada a partir da tradição patrística, tem como referência maior a pedagogia do caminho, do Evangelho de Marcos. Trata-se, basicamente, de transmitir a tradição do que a Igreja crê de forma dinâmica, significativa, envolvente e contagiante. As narrativas procuram estabelecer um diálogo fértil entre fé e vida, entre o horizonte bíblico e o horizonte cultural onde acontece o anúncio. Como afirma pe. Marco Antônio:

“O objetivo era sempre o de ajudar as crianças, os jovens e os catecúmenos adultos a entrarem ou serem introduzidos, bem mistagogicamente, no mistério pascal do Cristo. A intenção era colocar cada pessoa no seguimento de Jesus Cristo a partir de uma experiência espiritual pessoal e comunitária.”

 

 Há uma coordenação geral da catequese e outra em cada comunidade. A geral visita todas as comunidades e, mensalmente, encontra-se com os coordenadores comunitários da catequese. Quanto ao processo formativo, há uma formação intensiva para todos os catequistas no mês de fevereiro e uma formação continuada mensal. A coordenação da catequese tem mandato de três anos. A coordenação é eleita pelos próprios catequistas ou, quando vem por indicação do pároco, submete-se à aprovação dos catequistas.

Aos catequistas procura-se oferecer contínuos processos de capacitação e espaços de troca de ideias, com ênfase na experiência, internalização e apropriação das narrativas bíblicas a partir da realidade vivida por eles e pelos catequizandos. As crianças, adolescentes e jovens, como também os adultos, são envolvidas num processo catequético contínuo, seja nos momentos específicos organizados pela catequese, seja nos momentos litúrgicos, sacramentais e de pregação da Igreja.

A catequese não acontece tendo como meta receber os Sacramentos. O critério para formar os grupos é a idade das crianças e dos adolescentes. Grosso modo, a catequese é dividida em duas etapas: a 1ª com crianças de 6 a 12 anos e a 2ª com os adolescentes maiores de 13 anos. Em um mesmo grupo pode haver crianças que já foram iniciadas na Eucaristia e outras que ainda se preparam para o Batismo. Não há “missa da primeira comunhão”, depois de um tempo mínimo de caminhada e como aval dos catequistas, quando se sentem preparadas e desejosas, as próprias crianças podem pedir para comungar ou são incentivadas pelos catequistas a fazer isso. Na missa da comunidade se aproximam do altar e comungam com os demais fiéis.

Os jovens acima de 15 anos que ainda não receberam o sacramento do batismo são acompanhados em encontros à parte, por meio do processo de catecumenato, conforme se poderá ver adiante, no tópico concernente à Evangelização.

 

b)     Liturgia

Em relação à área pastoral “liturgia”, podemos realçar o investimento na reestruturação física dos espaços sagrados e o cuidado zeloso para com cada prática litúrgica (ritos, celebrações, sacramentos e festas), nas quais se promove sintonia, respeito e diálogo entre a Tradição da Igreja e o horizonte cultural da parcela do Povo de Deus ali situado com seus costumes e devoções.

Os templos físicos das comunidades foram concebidos para que as pessoas fossem envolvidas pelo mistério neles celebrados: o altar, a pia batismal, o ambão, a disposição dos bancos, a iluminação, a composição do ambiente, a preparação das equipes de liturgia, dentre outros aspectos. Tudo pensado para favorecer o envolvimento dos participantes. Como afirma o pe. Marco Antônio:



“O pe. Chico, quando assumiu a paróquia, tinha acabado de chegar de Roma, recém-formado em liturgia com os beneditinos, com especialização em ‘espaços sagrados’. Ele deu uma organização diferente em cada comunidade.”

 

Há o grupo organizado de leitores instituídos, com preparação técnica e acompanhamento. Os salmos são sempre cantados. Não há comentários ao longo da liturgia para não quebrar o ritmo.  A própria liturgia é que vai formando a assembleia. A comunhão sempre é dada em duas espécies e todos se dirigem até o altar para recebê-la. Há o grupo dos ministros extraordinários da comunhão, organizados em duas funções distintas, um para o serviço da liturgia eucarística e outro para atuar junto aos doentes. Há um grupo de ministros das exéquias. As funções e serviços litúrgicos tem um mandato de três anos.

Escolhem-se cantos litúrgicos que de fato estejam em perfeita sintonia com cada momento da celebração. Todas as equipes de canto são incentivadas a meramente ajudar a assembleia cantar e não fazer da celebração uma espécie de show musical. Para tanto, faz-se a opção por cantos com melodias mais fáceis e evita-se trocar demasiadamente o repertório.

Outro destaque vai para o modo de celebrar o batismo de criança. Ele é muito interessante porque acontece sempre dentro da missa e por etapas. Divide-se em quatro etapas: no primeiro domingo do mês, após o processo de inscrição na paróquia e visita da equipe de batismo à família, há a acolhida das crianças, com o sinal da cruz, e das famílias na comunidade; no segundo domingo faz-se a unção pré-batismal; no terceiro domingo o banho sacramental; e no quarto domingo os ritos complementares. Os padrinhos participam, geralmente, das quatro etapas, a não ser quando, por força maior, isso não é possível; então eles participam apenas da terceira etapa. O batismo é celebrado em todas as comunidades e toda a comunidade é convidada a participar e cada um a renovar o próprio batismo.

Peculiar, também, é o fato de muitas comunidades se reunirem, diariamente, nas manhãs para rezar as Laudes.

 

c)      Evangelização

Em relação à área pastoral “evangelização”, podemos dizer que ela engloba todos os movimentos, cada um com sua contribuição específica e características próprias. Tem-se o Apostolado da Oração, a Legião de Maria, o Terço dos Homens, os Vicentinos, a Renovação Carismática e os Círculos Bíblicos que são muito fortes ali. Há muitos encontros de formação acompanhados por um padre e uma coordenação com representantes de cada comunidade. Cada ano os estudos de formação giram em torno de um evangelho. Todos os que participam de movimentos de evangelização são convidados para estudar juntos, se conhecerem e se integrarem.

Merece ser enfatizada a forma como se concretiza o catecumenato de iniciação cristã. Os novos membros adultos, mas também os adolescentes e jovens, empreendem uma caminhada com diversas etapas ao longo do calendário litúrgico. Primeiro acontece a inscrição dos catecúmenos. Depois, eles recebem, durante um ano, a catequese. Em seguida, há o rito de instituição dos catecúmenos, segundo o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos – RICA. Durante os domingos da quaresma, são feitos os escrutínios e exorcismos. Utilizam-se sempre as leituras do Ano A, pois explicitam melhor a dimensão sacramental batismal. Procura-se envolver toda comunidade e fazê-la participar da caminhada dos catecúmenos. Segundo o pe. Marco Antônio:

“Desse modo, a todos os fiéis é oportunizado rever, confirmar e renovar o seguimento de Jesus, que é compromisso com a vida cristã e a corresponsabilidade na comunidade de fé.”

 

Como se pode notar, nessa paróquia procuram concretizar uma iniciação cristã de adultos totalmente inspirada na tradição patrística. Além disso, observa-se que entre catequese, liturgia e ação evangelizadora buscam concretizar uma unidade profunda e de mútua interação a serviço da comunhão eclesial.

 

d)     Ação social

Em relação à área pastoral “ação social”, merece destaque a organização. Há uma coordenação geral e coordenações locais em cada comunidade. Juntas procuram promover o discernimento das urgências, bem como ajudar na organização e execução das ações sociais. Segundo o pe. Marco Antônio:



“Sempre foi uma prioridade na paróquia, com muitas atividades diferentes, já que temos uma realidade com muitas demandas e déficit de políticas públicas básicas. A paróquia ganhou um prêmio de reconhecimento de sua atuação social pelo Vicariato da Ação Social. Temos uma coordenação geral para a ação social e, cada uma das comunidades, tem também o seu coordenador de ação social. Conta ainda com a colaboração e acompanhamento dos estudantes jesuítas e outros religiosos presentes nas ações evangelizadoras da paróquia. Há uma preocupação para que as ações sociais não se tornem um puro assistencialismo. Há reuniões reflexivas sistemáticas com todas as pessoas envolvidas nas ações sociais, nas quais se procura fazer análise de conjuntura sociopolítica e econômica, com explicitação das causas das carências sociais da região.”

 

Observa-se uma diversidade de ações sociais na paróquia São Francisco Xavier. A título de exemplo, há as ações promovidas pela Casa Recriar e as suscitadas pelo Centro de Apoio Comunitário Madre São José.

Quanto à Casa RECRIAR, esta foi fundada em 1988, pela Ir. Amélia, da Congregação da Divina Vontade.  Fica no Jardim Felicidade, bairro que já foi considerado, tempos atrás, como o mais pobre de Belo Horizonte. Trata-se de um espaço a serviço da promoção e valorização da vida. Tem como objetivo criar, acolher e desenvolver todo tipo de atividade que promova as pessoas no campo educacional, profissional e social. Essa casa nasceu para atender a demanda de serviços de desenvolvimento humano numa realidade de muitas lutas e dificuldades. Não havia posto de saúde e a água era escassa. As famílias, sem recursos mínimos, desejavam resolver o problema da moradia e da alimentação dos filhos. A desnutrição agredia inúmeras crianças. Surgiu, então, na comunidade um grupo de mulheres que, com a ajuda da Congregação das Irmãs da Divina Vontade, começou a se organizar enquanto agentes de saúde. Esse grupo consolidou a Pastoral da Criança. As demandas eram grandes e de emergência, as agentes não conseguiam atender o grande número de crianças desnutridas. O clima era de tristeza e angústia. Começou uma grande discussão com o objetivo de fazer algo a mais. Nesse contexto é que nasce a ideia do Projeto RECRIAR. Uma agente de saúde relata:

 

“Foi a Divina Providência, pois tínhamos esse espaço, destinado a um trabalho social para a comunidade. Nele um salão, uma pequena cozinha e muito amor para as crianças. Quem tinha uma vasilha a mais em casa foi colocando à disposição. Outras correram atrás de mantimentos. E assim fomos caminhando com o Projeto, com muita fé e coragem. Não tínhamos escolhido o nome. Em uma reunião sugeri que fosse Recriar e todas concordaram.”

 

Surgiu, então, a primeira atividade, um projeto de alimentação alternativa. As agentes, que hoje chamamos de líderes, eram responsáveis por fazer o almoço. As mães colaboravam com a limpeza do local. Em seguida, desenvolveram-se outras atividades no pouco espaço físico, que passou a se chamar Casa Madre Gaetana Sterni, uma obra social ligada à Paróquia São Francisco Xavier, hoje Obras Sociais Casa Recriar.

Toda sustentação financeira é conseguida através de doações e promoções que são feitas com a ajuda da própria comunidade, outras comunidades e da paróquia. Atualmente, existem coordenadores de cada atividade, que juntamente com a coordenadora da área de ação social da paróquia, se reúnem uma vez por mês para discutir e tomar decisões referentes aos trabalhos, atividades, parcerias e manutenção e desenvolvimento da Casa.

Na casa RECRIAR existem, hoje, as seguintes atividades: Pastoral da Criança, que atende crianças de 0 a 6 anos e tem como prioridade conscientizar a família/mãe na prevenção e cuidado da saúde e elementos a ela relacionados como desnutrição, higiene, vacinação e outros; Projeto Maria Maria, grupo de mulheres atendidas pela saúde mental que desenvolvem pinturas de autorretrato; Projeto Maria Felicidade – Economia Solidária, que reúne um grupo de senhoras responsáveis pelo desenvolvimento de artesanatos em geral; Grupo de Trabalhos Manuais, grupo da própria casa, acompanhado por uma religiosa, com objetivo de aprendizagem e interação social; Teatro, grupo de atividade artística que trabalha com jovens de 12 a 24 anos; Grupo Renascer, grupo de convivência da terceira idade; Ginástica Lian Gong, que ensina a prática de exercícios em vista da qualidade de vida; Sala Nossa, um espaço de figurinos, adereços, fantasias etc. para empréstimo à comunidade; Alcoólicos Anônimos – AA, que promove reuniões com temas pedagógicos e atividades com os alcoólicos e familiares; Casa do Brincar, que tem parceria com a PBH e consolida-se como um espaço para crianças de 0 a 6 anos fortalecer o vínculo familiar, através de brincadeiras; Atendimento Jurídico e Psicológico, com o objetivo de atender as demandas das comunidades.

A respeito do Centro de Apoio acima citado, este foi fundado em 2011.  Trata-se de uma associação sem fins lucrativos que atua na região territorial da Paróquia São Francisco Xavier, compreendendo todas as comunidades. Tem por finalidade desenvolver trabalhos sociais com a comunidade e cursos de capacitação e profissionalização, formar grupos de assistência às mulheres, crianças, adolescentes, jovens, idosos e prestar atendimento às famílias carentes. Além disso, procura: promover a melhoria das comunidades, prestando diretamente (ou solicitando aos órgãos públicos ou conveniando) serviços de assistência social, promoção humana e educação que visem todas as faixas etárias e, sobretudo, as camadas mais carentes da população; trabalhar no estudo das soluções dos problemas que afetem a coletividade; criar instrumentos de ação legal e de reivindicação dos direitos básicos das famílias e da população junto aos poderes públicos constituídos; desenvolver atividades de educação.

Há uma preocupação para que as quatro áreas tornem-se, cada vez mais, integradas e, mutuamente, vinculadas no conjunto da paróquia evitando-se, assim, a setorialização ou fragmentação. As pessoas responsáveis de cada área ajudam nas atividades das outras. Por exemplo, o catequista não é só catequista, ele é convidado a ser o ministro leitor, por excelência, na liturgia. Ele é o anunciador da palavra. Catequese e liturgia não acontecem de forma separada. Na compreensão patrística há entre elas, ao contrário, uma unidade. Quando há, por exemplo, alguma campanha da catequese, os movimentos são convocados a ajudar e a participar.

 

A organização administrativa da paróquia

As nove comunidades que ali existiam já tinham conquistado certa autonomia quando a paróquia foi constituída. A paróquia foi organizada em rede, sem uma Igreja matriz. Portanto, todas as comunidades estão articuladas a partir da secretaria paroquial. No início da formação da paróquia havia nove comunidades e depois surgiu a décima, a comunidade do Sagrado Coração de Jesus.

Em cada comunidade há o conselho comunitário (CPC), com 11 membros: o coordenador, o secretário, o tesoureiro, o responsável pelas obras, o responsável pelo patrimônio, o coordenador de catequese de primeira fase, o coordenador de catequese de segunda fase, o representante dos jovens, o representante da evangelização, o representante da ação social e o pároco. Os coordenadores de CPC formam o conselho administrativo paroquial (CAP), junto com o coordenador financeiro paroquial (contratado para fazer toda a contabilidade) e o pároco. O conselho pastoral paroquial (CPP) é formado por um representante de cada comunidade, além de um representante de cada uma das quatro áreas pastorais e um representante de cada movimento, dos jovens, dentre outros. Toda quinta-feira o pároco visita os doentes das comunidades. A cada dois meses há uma reunião do pároco com os diversos vigários para conversar sobre a caminhada da paróquia e trocar ideia sobre as ações evangelizadoras e a pastoral. Estas conversas são levadas para as reuniões do CPP.

 

Olhar pastoral do pároco para os novos desafios de evangelizar no atual contexto urbano

            Na dinamização da vida paroquial envolvem-se muitas pessoas. Notam-se mudanças profundas no contexto urbano atual. No início dos anos 90, havia bem mais pessoas disponíveis, com tempo livre para se dedicarem aos serviços eclesiais que eram propostos. Marcava-se uma reunião e comparecia muita gente. Havia facilidade em reunir e em encontrar pessoas com tempo livre e dispostas a assumir os trabalhos e serviços eclesiais. Havia muitos jovens disponíveis nos finais de semana. Esses, geralmente excluídos da universidade e sem muita perspectiva de trabalho, encontravam nas comunidades lugar propício para o encontro, o diálogo, o lazer e diversas oportunidades de crescimento humano. Havia muitas mulheres disponíveis, sobretudo durante a semana à noite e nos fins de semana. Entre essas o desemprego era grande. Na busca de enfrentar os desafios da conquista da cidadania, da realização pessoal, elas encontravam na comunidade espaço propício para a partilha, para somar forças e para crescer como pessoas. Esse cenário mudou. Hoje, a maioria dos jovens estuda e trabalha, sem muito tempo livre para as dinâmicas da vida eclesial. As mulheres, igualmente, estudam, ingressaram no mercado de trabalho e ainda têm que cuidar das tarefas domésticas. Muitos adultos, que não tiveram a oportunidade de estudar, hoje estão estudando. Os avós cuidam dos netos para os pais estudarem e trabalharem. A vida urbana oferece muitas outras possibilidades de preencher o tempo: a televisão, com a sua cultura do entretenimento e sedutoras propagandas, está em todas as casas, os shopping centers com suas atrativas vitrines etc. De modo que, hoje, tornou-se bem mais desafiante encontrar pessoas com tempo livre para o cultivo da vida espiritual e para o engajamento na vida eclesial.

            Por um lado, reconhece-se que melhorou a qualidade de vida. As pessoas estudam mais, encontram mais e melhores oportunidades e condições de trabalho. Há visíveis conquistas no campo da cidadania. Há maior inclusão no consumo e no acesso às novas tecnologias. Por outro, percebe-se ameaças novas à dignidade da vida. A vida familiar está mais deteriorada, perde-se muito tempo no trânsito, as pessoas estão mais estressadas e cansadas do ritmo louco da vida. Há maior sensação de fracasso, desilusão e vazio. Muitos recorrem às drogas ou são envolvidos pela sedução do tráfico. Não há tempo livre para o cultivo de dimensões importantes da vida, para a humanização e conquista do equilíbrio: a interioridade, a gratuidade, a contemplação, o encontro, o diálogo, a partilha, o cuidado consigo mesmo e com as relações afetivas.

            Evangelizar nesse novo contexto traz exigências novas. Fica-se perdido, pois, muitas vezes insiste-se nas práticas tradicionais que já não respondem aos anseios das pessoas e à própria configuração da vida urbana atual. Tem-se que buscar outras alternativas, fazer adequações e encontrar caminhos novos para iluminar a vida das pessoas com o anúncio do Evangelho de Jesus. Nas palavras do pe. Marco Antônio:



“Surgiu a necessidade de contratar alguns agentes de pastoral, leigos e leigas, bem como funcionários para dedicarem-se, de forma mais intensa, e atender às demandas e serviços das comunidades. Temos, por exemplo, dois agentes de pastoral contratados e totalmente disponíveis para os serviços da paróquia.”

 

Hoje a paróquia São Francisco Xavier é composta por uma rede de 10 comunidades: Cristo Redentor, Sagrado Coração de Jesus, Senhor dos Passos, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Imaculada Conceição, São Pedro, São Judas Tadeu, Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier. Um dos grandes desafios atualmente é buscar a maior interação entre essas diversas comunidades; por um lado é salutar a autonomia que cada uma vive, mas há o risco de, dado o tamanho da rede paroquial ser demasiado, fecharem-se em si mesmas e na prática funcionarem como pequenas paróquias de um só templo.

O pároco, Marco Antônio M. Lima, SJ, é auxiliado por dois vigários paroquiais pe. Roberto Donizeti da Silva, SJ e Pe. Élcio José de Toledo, além de diversos colaboradores: pe. Juan Antônio Ruiz de Gopegui, SJ; pe. Rogério de P. Barroso, SJ; pe. Ulpiano Vásquez, SJ; pe. Paulo César Barros, SJ; Pe. Geraldo Luis de Mori, SJ; pe. Germano Cord Neto, SJ; pe. Walter Walchi Honorato, SJ; pe. Nilo Ribeiro, SJ; pe. Deonor Vieira, SM e pe. José Maria da Silva, SM.

Há cerca de vinte e duas celebrações eucarísticas nos finais de semana da paróquia. Para melhor conhecê-la sugerimos visitar o site dessa rede de comunidades, www.psfx.org.br. Nele você encontrará os endereços das comunidades, telefones de contato, agenda das celebrações, festas e acontecimentos paroquiais.

 

Edward Guimarães

e  equipe executiva do Observatório da Evangelização.